Pocotós 
                & outras bufas
                (por Luiz Alberto Machado)
                 
               Como já dizia Jorge 
                Benjor: Salve, salve simpatia! Por isso, nem só de pocotós & outras 
                bufas, potocas, milongas e onomatopéias desprezíveis e abomináveis 
                que só faltam virar trilhas sonoras arranjadas por arrotos, flatulências, 
                espirros, tosses & outras mungangas vive a música brasileira. 
                Vale dizer que essas pérolas do ouropel da mediocridade não são, 
                pura e simplesmente, exclusivas desse tempo.
                
                Não, meu. "Amor de rapariga" e outras comprobatórias inspirações 
                nefastas de nossa incultura débil atual não são de hoje. Vêm de 
                tempos. Quem não se lembra dos clássicos rafamés da cornagem descarada, 
                como A velha debaixo da cama, Bilu-tetéia, Farofa-fá!, das safadezas 
                do Velho Faceta, da poética biltre do Odair José, da miseranda 
                Entre tapas e beijos, dos Evaldos Bragas da vida & de outras bizarrices 
                da lubrificação de gaia? 
                
                Todas essas e muitas outras contribuíram para o hilário momento 
                da sacanagem total. E hoje a coisa é mais plural: vêm as baladonas 
                da cornice exacerbada dos breganejos, o gospel de louvor barulhento 
                no paroxismo de bodes e cabras endemoninhadas, as pagodadas dos 
                Big Shit Brother no pay per view da malandragem sambadaça de grife, 
                os Tchans & seus axés, a desmunhecada colorida dos forrobodós 
                dos abaitolados e seus pompons, as reboladeiras espalhafatosas 
                gringas e os roqueiros & mequetrefes das lamúrias importadas, 
                tá ligado? 
                
                Descendo a ladeira 
                
                Quem nunca teve uma recaída de corno na vida? Isso deve ser saudável, 
                né não Freud? Nada mais revigorante que essa festança do consumismo 
                tupiniquim. Ora, tem melô das pinicas e marmanjões tarados, tiazinhas 
                para todos os gostos e perversões, feiticeiras reboculosas para 
                ligar na tomada e botar a caixa de pressão acendendo a libido, 
                a Clementina das titicas & tiriricas, as Ivetes Sangalos berrando 
                bonito ao levantar a saia numa coreografia de pernas & sexo & 
                peitos lindos, as Kelys Keys na festa da infidelidade nas costumeiras 
                puladas de cerca que confirmam Marcel Proust: "(...) deixemos 
                a mulher bonita para os homens sem imaginação. (...) porque é 
                um desperdício uma mulher bonita para um homem só." Isso com Danielas 
                Mercurys, Vanessas Camargos, Rouges, batons e afins, que deixam 
                o Zé Bocó vesgo, mouco, mudo, coxo e ocrídio, fazendo o sinal 
                da cruz, rezando o Pai Nosso, a Ave-Maria e o Glória ao Pai na 
                Igreja da Graça e nas telelágrimas das cinco, das seis, das sete, 
                das oito, das nove, das dez do nosso apartheid social que brilha 
                no entediante Domingo Legal para vergonha de ladinho do Boris 
                Casoy e desalinho horroroso da Miriam Leitão no índice astronômico 
                do Ibope. Arre égua! 
                
                Oxente, tudo isso consegue enterrar a obra de um Luiz Gonzaga, 
                de um Heitor Villa-Lobos, de um Capiba, de um Hermeto Pascoal, 
                de um Noel Rosa, de uma Chiquinha Gonzaga, de um Tom Jobim, pudera, 
                tudo isso, perto de uma As rosas não falam, é sopa; de uma Carinhoso, 
                é mole; de uma Construção, sai fora. Fala sério, meu. 
                
                Cancioneiro rico como o nosso, plural e multicultural como os 
                carregados das Minas, dos Pampas, da floresta, dos sertões, dos 
                cerrados, dos agrestes, dos rincões distantes da regionalidade 
                geral é trocar ouro por m... e fazer emergir um Brasil que, realmente, 
                não pode ser levado a sério. Enquanto entoamos febrilmente "(...) 
                não toque essa música que eu não consigo ouviiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiir..." 
                ou "Garçom... saiba, o meu grande amor hoje vai se casar..." e 
                outras do cúmulo dos gostos e preferências, o Brasil desce a ladeira 
                do razoável e morre afogado na instituição oficial da sacanagem 
                federal. Eita, Brasilzim arretado, aberto e sem porteira!!!!! 
                Vamos nessa? 
                
                
                
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