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                caminho A seguir
                (por Vânia Moreira Diniz)
                
                Ela está aqui. Olha para mim com 
                seus olhos profundamente azuis. Sinto que da profundeza deles 
                me pede socorro e auxílio. E eu daria toda a minha felicidade 
                para atendê-la. Parece que apesar do mundo interior tão grande, 
                quer e deseja sempre a minha companhia.
                
                Seus braçinhos se estendem quando chego perto e eu a coloco docemente 
                no meu ombro apertando-a muito. Acho que nesses momentos a sensação 
                de conforto deve ser maior e mais profunda e então Júlia dá um 
                sorriso tão meigo e lindo, que minha garganta dói incrivelmente 
                com o bolo que se forma nela impedindo-me até mesmo de chorar.
                
                Passo as mãos pelos seus bastos e louros cabelos e sento-me no 
                chão para que ela faça o mesmo. Ela acompanha meus movimentos 
                sorrindo enquanto sinto necessidade de deitar no chão fechando 
                os olhos, sentir minha pele contra o frio no meu corpo quente.
                
                Quero me maltratar um pouco, mas ela se aproxima pedindo um beijo 
                e tocando no meu rosto.E quando penso em colocá-la mais perto 
                de mim, a força de seu olhar parece dar-me ânimo e forças.Sinto 
                que há uma vida urgente em seu coração, expressa nas pupilas de 
                seus extraordinários olhos azuis.
                
                Posso entender tudo que se passa naquele coraçãozinho e na mente 
                que vai andando ao ritmo mais lento, mas não menos colorida de 
                imagens e sensações e prevejo um caminho mais árduo e irreversível 
                que eu desejaria tomar entre minhas mãos como se fosse algo que 
                pudesse encher de mimos e carinhos e conseguir a plenitude.
                
                Julia brinca a poucos passos de mim, e aproveito para deixar que 
                meus sentimentos tomem o rumo que eles queiram. Acho que temos 
                esse direito. De poder adquirir forças por dentro, e é realmente 
                assim que conseguimos mais vitalidade e recomeçamos do zero outra 
                vez. Com vitalidade e muita esperança.
                
                A pequena se aproxima como reconhecendo que eu preciso de mais 
                auxílio do que ela nesse minuto e se agachando passa os braços 
                pelo meu pescoço. Ficamos longo tempo recebendo e transmitindo 
                calor que se espalha por dentro e por fora. E fazendo uma reciclagem 
                cada qual de um modo diferente, mas ambas com o intenso amor que 
                se desprende e alimenta, fortalece, alegra e vigora a essência 
                de todo nosso ser.
                
                Nesse momento não quero saber do futuro nem das repercussões e 
                dificuldades do depois. Só mergulhar na felicidade de tê-la e 
                amá-la. Nesse exato instante não quero pensar. Quero dar à pequena 
                Júlia compreensão, segurança, ternura e a certeza de uma vida 
                com o sol sempre a brilhar e uma luz intensa.O tempo dirá o que 
                deveremos fazer, o tempo dirá. Só quero lhe dar alegria e que 
                ela não veja tristeza ou dor além das que fatalmente enfrentará 
                no caminho que tem a seguir.
                
                Mas não arrefecerei jamais em momento algum, mesmo que tudo pareça 
                negro. Teremos que dar um jeito de clarear nem que seja com a 
                luz dos nossos próprios sentimentos. A estrada parece sinuosa, 
                mas não impossível de caminhar. E é por ela que faremos o caminho 
                todo. 
                
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