Contrastes
                (por Vânia Diniz)
                 
              
                Nesse fim de ano, o sol causticante, 
                o calor abrasante, mais uma vez delineio a natureza que me sorri.
                Minha alma devaneia ao sentir esse ano mágico de perdas irrecuperáveis 
                e encanto fascinante, de paixão, amor, realização, doçura e ao 
                mesmo tempo, severidade, por vezes até injustiças. 
                Períodos entremeados de contrastes e descobertas. Verdades mágicas 
                que fizeram de minha vida uma seqüência incoercível de contradições.
                Descobri há muito tempo que minhas sensações, negativas ou positivas 
                terão sempre que ser tão intensas a ponto de não deixar que eu 
                fique refletindo em suas conseqüências. E volto-me então absorvida 
                por qualquer coisa que me possa levar ao infinito espaço de minha 
                mente, e viver, viver, viver cada pequeno momento em lágrimas 
                ou risos. Não importa. Tudo que interessa é que consiga viver.
                Nesse ano experimentei dias tão maravilhosos que independente 
                de tudo, deu-me a impressão que nada existia senão aquelas horas 
                que passaram tão rápidas como um segundo.Que me deram percepções 
                de estar vivendo no espaço que eu amo, levitando literalmente 
                surpreendida pelo vazio entre o céu e a terra, flutuando agradavelmente 
                como se tivesse podendo alcançar as estrelas.
                Não estou apenas fazendo uma reflexão, mas tentando descobrir, 
                como se pode viver entre a felicidade e a dor ao mesmo tempo. 
                E foi isso que aconteceu.
                Enquanto chorava pela perda de pessoas queridas, e não entendia 
                o súbito e saudoso desaparecimento, via, convivia com realidades 
                tão deslumbrantes que me levavam por sendas de prazer inigualável. 
                
                Pude saber da cura de uma criança, meu protegido, que sofria de 
                uma doença que levou meu irmãozinho aos cinco anos e vi no mesmo 
                lugar pessoas controladas no alcoolismo e freqüentando essa instituição 
                magnífica dos alcoólicos anônimos.
                Compreendo que o contraste por vezes é aterrador e os altos e 
                baixos que passamos pode nos levar á loucura, mas também ao fascínio. 
                Esse ano passou célere, em dias seguidos de arroubos enquanto 
                tentanva descobrir o que havia, o que estava acontecendo e tendo 
                certeza que o racional e emocional nunca andam juntos.
                Nada é previsível nesse mundo e acho mesmo que se fosse seríamos 
                um bando de alucinados, cada um esperando seus momentos , sem 
                conseguir caminhar com tranqüilidade nem procurar entender seus 
                irmãos tão próximos.
                Presenciei a violência, soubemos notícias que me deixaram estarrecida 
                pelo fato de como é possível um ser humano agir dessa forma, vi 
                a indiferença, frieza e observei a ironia e em contrapartida a 
                esperança surgia no horizonte previsível em cores, o sol brilhava 
                tão quente e com luz difusa entrando desvairadamente pelas janelas 
                e os pássaros ensaiavam seu vôo rumo ao espaço, enquanto acompanhava 
                a beleza desse planeta fixando incompreensivelmente o infinito 
                que um dia conheceria.
                Senti apatia e entusiasmo fremente, caí em certas ocasiões no 
                marasmo e fui dominada pelo arrebatamento, vivi a escuridão e 
                as estrelas, a lua e a vida me presentearam várias vezes, com 
                seu brilho.
                Encontrei nos dias desse ano tantas e tão grandes provas de amizade 
                compreensão e ternura, que meu coração se confrangeu imaginando 
                a maravilha do espírito mas em certos momentos pude fixar o vazio, 
                sem entender o que faria. E o que mais me sensibilizou foi o amor 
                pleno e transbordante incapaz de ser ignorado, e os gestos de 
                solidariedade e aconchego mesmo vivendo na era fascinante da tecnologia. 
                
                Valeu a pena sentir esse ano, valeu a pena percorrê-lo e acreditar 
                em sonhos, crer no inatingível e ter convicção que a vida merece 
                crédito em todos os aspectos mesmo que transitória.
                
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