A arte de reinventar 
                
                Phalábora é a síntese da poesia de Gustavo 
                Dourado, poeta da reinvenção e da magia. Seu universo 
                pujante e criativo é desvendado página a página, 
                com palavras que jorram sons e cores, matéria prima da 
                imaginação. 
                Conhecedor profundo de nossa língua e de obras dos imortais 
                Guimarães Rosa, Mário Faustino, Euclides da Cunha, 
                dos repentistas Cego Aderaldo e Zé Limeira, sem falar nos 
                modernistas, faz uma junção básica do popular, 
                do erudito e do concreto. 
                Ao inspirar-se, costuma beber em fontes glauberianas e torquatianas. 
                Não é à toa que dedica dois poemas a Glauber 
                Rocha e um belíssimo cordel a Torquato Neto. Sua magia 
                vem também de leituras do denso James Joyce e de Baudelaire. 
                Assim, o poeta lança um olhar sobre o futuro, transcendendo, 
                com sua obra, os muros do lugar comum. E o resultado não 
                poderia ser outro: versos que primam pela inventividade, versatilidade 
                e ineditismo. 
                Em "Guimã-Rosa", por exemplo, faz uma exaltação 
                à língua portuguesa e aos inventores da linguagem 
                quando diz: "Língua! Por(tu)guesa errante, lusídica 
                rosa personalizada/ experimentalizo la langue nas ancas filológicas 
                do verso........Guimã-Rosa do povo/Cobra, Cabral Macunaíma". 
                
                Suas palavras brotam cores devido a forte influência das 
                artes visuais. Fez, inclusive, parcerias com os artistas Toninho 
                de Souza, Zé Nobre, Sabino Costa, Delei, Edgar Santana, 
                Jorge Braga e alunos-pacientes do Sarah. 
                Contrário às profecias do caos, rebate essas idéias 
                de forma peculiar com "homonovo" e ponteia: "O 
                novo homem surgirá dionisíaco/poético-sensual/consciente 
                rítmico/homem performático, bailarino sideral/surfista 
                alquímico da palavra." Mas é cruel quando fala 
                de nossas instituições políticas, uma herança 
                da geração panfletária e engajada e deixa 
                escapar a constatação: "O Brasil quem U.$.A 
                sou E.E.U.U.". 
                Amargedom, baiano de nascimento e brasiliense de coração, 
                tem o dom da palavra, uma oralidade impressionante. É um 
                poeta que traduz o sentimento cósmico de forma espontânea. 
                Um inquieto por excelência. Um repentista-cordelista de 
                mão cheia. Com todos esses atributos podemos dizer, com 
                toda certeza, que é um dos melhores de sua geração. 
                
                
                Maria Félix Fontele - Jornalista e 
                Escritora