Reforma 
                Política e Eleitoral 
                (por José Aloise Bahia)
                
                Quem viu o programa "Roda Viva", 
                da TV Cultura, do dia 29 de agosto passado, observou nas palavras 
                do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Carlos 
                Veloso, uma objetividade lúcida de quem defende uma reforma política 
                eleitoral ampla e que vá ao cerne da questão casuística, que perpassa 
                a história da política brasileira. De maneira resoluta, ele defendeu 
                a tese de que os partidos que utilizam o recurso do caixa dois 
                devem ter os seus registros cassados.
                
                "Eu tenho uma interpretação (aliás, meus colegas advogados dizem 
                que sou mão pesada) linha-dura (...) A leitura que eu faço da 
                lei é neste sentido: a prova do caixa dois pode levar à cassação 
                do registro e do estatuto do partido infrator", observou, durante 
                a transmissão do programa televisivo. Sem referir-se diretamente 
                aos acontecimentos atuais, o ministro deixou claro que essa opinião 
                é dele, e não do tribunal. 
                
                O legado do mês de agosto de 2005 é bem salgado. Crises nas várias 
                CPIs, embates no congresso entre os parlamentares - o espetáculo 
                da paralisia, segundo o editorial do jornal "Folha de S. Paulo" 
                -, depoimentos e novos fatos sobre a crise política (a última, 
                envolve as eleições municipais de 2002 na cidade de Londrina, 
                no Paraná), as viagens, inaugurações, discursos e ataques do presidente 
                da república sobre o verdadeiro papel da imprensa, a postura do 
                deputado José Dirceu (PT-SP) e o mais grave: até agora a população 
                não sabe de onde veio o dinheiro dos caixas dois, que alimentam 
                os partidos políticos brasileiros. 
                
                Sobre o assunto, a Lei Eleitoral Brasileira não é específica. 
                Ela fala do cancelamento do registro do partido no caso de não 
                houver uma prestação de contas à Justiça Eleitoral. Advogados 
                observam que a norma somente autoriza a punição ao partido que 
                não presta contas após um exercício eleitoral e/ou uma penalização 
                na situação de uma prestação de contas a partir de informações 
                falsas. 
                
                Diante dos fatos e na falta de uma Reforma Política e Eleitoral 
                consistente, que até hoje não aconteceu, o ministro Carlos Velloso, 
                declarou no programa "Roda-Viva" que é favorável a uma espécie 
                de adequação, em outras palavras, uma mini-reforma política. Devido 
                o atual calendário eleitoral (alterações de qualquer natureza 
                poderão ser feitas somente até o dia 30 de setembro), ele defendeu 
                uma prorrogação no prazo legal para mudanças na legislação eleitoral, 
                através de uma emenda constitucional.
                
                De acordo com o ministro, a estrutura atual do TSE para investigar 
                as contas dos partidos políticos e candidatos é muito precária. 
                Segundo dados, somente cinco funcionários formam a equipe de fiscalização. 
                Este é o quadro que se apresenta. É urgente, urgentíssimo, a aprovação 
                de uma emenda constitucional para aumentar o número de pessoas 
                para realizar tais trabalhos. Isso é somente a ponta do iceberg. 
                
                
                
                José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista e 
                escritor.
                Autor de Pavios Curtos (anomelivros, 2004) e Em Linha Direta (no 
                prelo). josealoise@aol.com
                
                
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