Referendo: 
                Cidadão, Você Decide! 
                (por José Aloise Bahia)
                
                Na edição 1925 deste ano, a revista 
                Veja apresenta sete razões para votar "Não" na consulta popular 
                do próximo dia 23 de outubro, que pretende desarmar ou não a população. 
                E, nas rádios e TVs, observa-se às campanhas gratuitas, apresentando 
                os argumentos contrários e favoráveis. Mas, antes de alongar sobre 
                o assunto, convém observar e traduzir o que está escrito no site 
                do Senado Federal, no tocante as diferenças entre os termos Referendo 
                e Plebiscito. Um esclarecimento necessário para a população e 
                a opinião pública.
                
                A primeira consulta popular em forma de referendo no Brasil aconteceu 
                em 1963, após a renúncia de Jânio Quadros. O Congresso Federal 
                colocou em votação para todos os cidadãos a proposta de mudança 
                no sistema presidencialismo para parlamentarismo. O parlamentarismo 
                foi rejeitado. E o presidencialismo vigorou. No plebiscito de 
                1993, novamente a população foi consultada sobre a forma de governo. 
                O presidencialismo saiu vitorioso em detrimento do parlamentarismo 
                e da monarquia.
                
                O plebiscito é uma convocação da população antes da criação da 
                norma jurídica (ato legislativo ou administrativo), cabendo ao 
                povo, por meio do voto, aprovar ou não a questão submetida. Já 
                o referendo é uma convocação após a edição da norma jurídica, 
                devendo o povo ratificá-la ou não. É o caso da decisão do próximo 
                dia 23 de outubro. Os cidadãos devem responder "Não" ou "Sim" 
                (a ordem, por sorteio, é esta na urna eletrônica: número 1 para 
                "Não" e número 2 para "Sim") à seguinte pergunta do Estado brasileiro: 
                "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?".
                
                Um esclarecimento pertinente para a população: se você responder 
                "Não" (opção número 1 da urna eletrônica), quer dizer que você 
                é favorável ao comércio de armas de fogo e munição no Brasil. 
                Do Contrário, se você responder "Sim" (opção número 2 da urna 
                eletrônica), você está dizendo não ao comércio de armas de fogos 
                e munições no Brasil. Que fique bem claro também o seguinte: a 
                votação é obrigatória.
                
                A revista Veja enumera de maneira enfática e extrema as sete razões 
                para votar "Não": 1o. Os países que proibiram a venda de armas 
                tiveram aumento da criminalidade e da crueldade dos bandidos. 
                2o. As pessoas temem as armas. A vitória do "Sim" no referendo 
                não vai tirá-las de circulação no Brasil. 3o. O desarmamento da 
                população é historicamente um dos pilares do totalitarismo. Hitler, 
                Stalin, Mussolini, Fidel Castro e Mao Tse-Tung estão entre os 
                que proibiram o povo de possuir armas. 4o. A polícia brasileira 
                é incapaz de garantir a segurança dos cidadãos. 5o. A proibição 
                vai alimentar o já fulgurante comércio ilegal de armas. 6o. Obviamente, 
                os criminosos não vão obedecer à proibição do comércio de armas 
                e 7o. O referendo desvia a atenção daquilo que deve realmente 
                ser feito: a limpeza e o aparelhamento da polícia, da justiça 
                e das penitenciárias. 
                
                Vejamos agora as argumentações 
                do professor Lélio Braga Calhau (Univale/MG), promotor de justiça 
                do Ministério Público de Minas Gerais, pós-graduado em Direito 
                Penal pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Mestre em Direito 
                do Estado e Cidadania pela Universidade Gama Filho (RJ), em matéria 
                opinativa que saiu na revista Consultor Jurídico do mês de setembro: 
                "Sou favorável ao voto da proibição do comércio de armas no Brasil. 
                Avalio que o desarmamento é uma das medidas que devem ser adotadas 
                em conjunto com outras, tais como, o aumento da fiscalização das 
                fronteiras para que sejam impedidas as entradas de armas de grosso 
                calibre de origem estrangeira, aumento para a punição de reincidentes 
                na prática específica desse delito, punição agravada para os fabricantes 
                de armas caseiras etc. O desarmamento é a primeira das medidas 
                que devem ser implantadas em conjunto para reduzirmos a violência 
                no Brasil."
                
                Segundo Calhau, o referendo deve ser o ponto de partida para uma 
                discussão mais ampla e eficiente sobre qual a Política Criminal 
                o Brasil deve adotar no futuro. Num país, segundo dados dos institutos 
                criminais, em que mais de 100 pessoas são mortas diariamente com 
                armas de fogo. "Entendo sim que a tese da proibição das armas 
                de fogo é a mais apropriada pelo nosso momento histórico. Apoio 
                também a campanha de desarmamento que vem sendo realizada. Mas 
                que a mesma sejam realizadas pela população com a razão, sem paixões, 
                para que o povo ainda não seja confundido com ilações criminológicas 
                precipitadas que ainda não foram analisadas exaustivamente pela 
                comunidade científica", observa o promotor de justiça.
                
                Eis os dois lados. Duas argumentações distintas e importantes. 
                Vale pensar de maneira madura! É uma questão de vida ou morte 
                discutir ao máximo esta conjuntura contundente de violência, consumo 
                e tráfico de drogas e influências, conflitos no campo, marginalidade 
                urbana, contrabandos diversos, crimes generalizados etc. A sociedade 
                civil e o Estado Brasileiro, de maneira objetiva, devem zelar 
                pelo maior patrimônio que temos: trilhar um caminho mais seguro, 
                em que as famílias e cidadãos possam de fato ter educação, saúde, 
                trabalho, conhecimento pleno dos direitos e deveres perante a 
                lei, e que esta lei seja cumprida. Independente da raça, religião, 
                opção sexual, nível intelectual ou classe social. O referendo 
                vem fortalecer a democracia brasileira. Com arma ou sem arma: 
                cidadão, você decide! 
                
                
                José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista e 
                escritor.
                Autor de Pavios Curtos (anomelivros, 2004) e Em Linha Direta (no 
                prelo). josealoise@aol.com
                
                
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