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                visuais e idéias de uma campanha eleitoral
                (por Thomas Hohl)
                
                A aplicação dos símbolos e das cores ao campo publicitário é necessária 
                para que se possa manejá-lo de acordo com a natureza da idéia 
                e dos hábitos sociais que mobiliza. No campo psicológico, as cores 
                adquirem um significado através do ambiente onde são utilizadas 
                e da associação com os símbolos que formam os arquétipos coletivos. 
                Nesse sentido, é necessário estudar cada cor em função do público 
                a que se destina (Da Cor a Cor Inexistente, de Israel Pedrosa).
                A interpretação das cores e da iluminação, assim como das formas, 
                é antropológica. De fato, a cor e a iluminação têm um efeito psicofisiológico 
                sobre o espectador, porque são percebidas opticamente e vividas 
                psiquicamente, dando à percepção do espectador uma dimensão cultural. 
                A vista humana tende a concentrar sua atenção na parte principal 
                do design e a isolá-la do que está em volta. Assim, os olhos do 
                consumidor selecionarão e fixarão imediatamente a parte principal 
                de um símbolo. 
                A estratégia de campanha presidencial do PT em 2006 foi desassociar 
                a imagem de Lula à do partido. Os 20 anos de cartazes, bandeiras 
                e estrelas vermelhas ficaram no passado, a cor predominante passou 
                a ser o azul, com algumas rajadas de amarelo. Criou-se uma confusão 
                proposital entre as cores do PT e do PSDB. A "onda vermelha" de 
                2002 foi trocada drasticamente pelo "azul" de 2006. Da mesma forma 
                o programa "Fome Zero", que se tornou um fracasso do governo Lula, 
                foi relegado ao segundo plano na campanha "Bolsa-Família". 
                A Estrela do PT que tinha um impacto junto ao eleitorado comparável 
                somente com o Tucano do PSDB, virou um pequeno símbolo que passou 
                quase desapercebido do campo visual nos cartazes do Partido dos 
                Trabalhadores. Para agradar seu eleitorado em potencial, Lula 
                seguiu os indicativos de pesquisas eleitorais e a orientação dos 
                assessores de marketing político , afastando-se de vez do PT, 
                reforçando a tese de que nem teve responsabilidade pelos escândalos 
                nem foi contaminado por eles. A troca das cores demonstrou que 
                houve indiferença do eleitorado quanto à origem partidária dos 
                candidatos, tornando-se irrelevante se era petista ou tucano. 
                A campanha de 2006 seguiu sem entusiasmo, sem perspectiva de surpresas. 
                Não houve ânimo para os debates, para os programas eleitorais 
                ou para os comícios. 
                A maior parte dos slogans publicitários tendem para os supersignos, 
                ou formas globais, nos quais as palavras não exercem papel pessoal 
                e o único fato novo que subsiste na mensagem é a sua própria presença. 
                Estabelece-se, assim, uma dialética do "banal" e do "original": 
                as mensagens correntes ficam compreendidas entre os dois extremos, 
                que enviam para o receptor uma certa quantidade de originalidade 
                na reunião dos signos e, ao mesmo tempo, uma estrutura perceptível, 
                no sentido de que o consumidor das mensagens as compreenda (O 
                Cartaz, de Abraham Moles). 
                Segundo Umberto Eco, a comunicação eficiente fundamenta-se na 
                proposta de arquétipos de gosto que preenche as mais previsíveis 
                expectativas. Entretanto, para não se tornar repetitiva e exaustiva, 
                a publicidade baseia-se no pressuposto de atrair a atenção do 
                espectador, quanto mais violar as normas comunicacionais conhecidas, 
                realizando apelos através de soluções originais. 
                A propaganda política, especificamente, age sempre sobre um substrato 
                preexistente, seja um mito nacional ou complexo de ódios e de 
                preconceitos tradicionais. A maior preocupação numa campanha eleitoral 
                deve ser a identificação e a exploração do gosto popular. Isso 
                se torna possível, pois a propaganda dispõe de recursos para criar 
                a ilusão da unanimidade. Esta se dá pela pressão que o grupo exerce 
                sobre o indivíduo. Desse conflito decorre o conformismo, dando 
                a impressão de que a opinião do indivíduo faz parte da unanimidade. 
                A maneira de unir a multidão é a realização de manifestações de 
                massas, comícios ou desfiles. Nestas manifestações, acrescentam-se 
                elementos que dão a impressão de unanimidade, são eles: bandeiras, 
                estandartes, emblemas insígnias, legendas, uniformes, jingles, 
                bottons, slogans, entre outros.
                Ao candidato interessa saber qual é a imagem que formará o conceito 
                que possa ser fixado junto à opinião pública, representando a 
                forma como ele deve ser visto e aceito pela sociedade. A imagem 
                que o diferencia dos demais candidatos é o fator determinante 
                do grau de memorização junto ao eleitorado no decorrer da campanha. 
                O aumento da memorização se dará, se o candidato descobrir o que 
                o eleitor quer ouvir, se souber vender idéias se corrigir falhas 
                na aparência; se criar identificação com o público certo; se atingir 
                o adversário com ataques consistentes (obtidos às vezes em pesquisas 
                qualitativas); e, por fim, se souber desarmar armadilhas criadas 
                pelos adversários. O símbolo e o slogan são considerados os elementos 
                chaves para garantir a memorização e a impressão de unanimidade 
                na campanha. Na campanha presidencial de FHC em 1998, havia um 
                símbolo e um slogan merecem um destaque em nossa análise: uma 
                seta apontando para o alto, com o dizer Avança Brasil à frente 
                da bandeira nacional, essa trouxe, conscientemente, a associação 
                com otimismo e ascensão, e, inconscientemente, deu uma conotação 
                sexual de virilidade e potência, a qual está relacionada indiretamente 
                com a capacidade de liderar.
                O símbolo deve estar presente em todas as peças e materiais a 
                serem utilizados, pois sua repetição contínua ajuda a fixar, por 
                associação, o nome e as idéias do candidato.Para a formação da 
                imagem, devem-se criar condições para que os componentes racionais 
                e emocionais se apresentem integrados, e isso se dará através 
                da criação do visual da campanha escolha das cores a serem utilizadas, 
                estudo dos formatos, quantidade e qualificação de materiais a 
                serem encomendados e a harmonização de todos estes elementos. 
                
                Quando foi instituída a reeleição, o processo eleitoral ganhou 
                uma nova conotação. A reeleição, especificamente, tem uma característica 
                que a difere da primeira eleição: sob a óptica do marketing, o 
                candidato à reeleição não vende a idéia do "novo", porém traz 
                para o eleitor a sensação de segurança, contando com o voto de 
                fidelidade, enquanto que o candidato "novo" conta com o crédito 
                de confiança. O candidato à reeleição deverá criar símbolos durante 
                sua administração que façam com que os eleitores não se esqueçam 
                dele, através da associação de sua imagem às suas realizações. 
                
                Depois que se iniciou o processo de redemocratização, pôde-se 
                perceber que houve uma manipulação eficiente dos códigos e símbolos 
                na campanha presidencial. As consistências das imagens construídas 
                de Collor, de FHC e de Lula estavam muito mais relacionadas a 
                estratégias de campanha do que propriamente à realidade. 
                
                Bibliografia:
                - Azevedo, Wilton, Os signos do design, Global Editora
                - Barreto, Roberto Mena, Análise transacional da propaganda, Editora 
                Summus
                - Burgelin, Olivier, A comunicação social, Edições 70 
                - Calazans, Flávio, Propaganda subliminar multimídia, Editora 
                Summus
                - Danger, Eric P., A cor da comunicação, Forum Editora 
                - Eco, Umberto, A estrutura ausente: introdução à pesquisa semiológica, 
                Editora da USP 
                - Espinalt, Carlo M., Manual da propaganda moderna, Hemus Editorial
                - Kuntz, Ronald, Marketing político: a eficiência a serviço do 
                candidato, Global Editora
                - Ladeira, Julieta de Godoy, Contato imediato: criação de propaganda, 
                Global Editora 
                - Leduc, Robert, Propaganda uma força a serviço da empresa, Editora 
                Atlas
                - Marcondes Filho, Ciro, Política e imaginário nos meios decomunicação 
                de massa no Brasil, - Editora Summus 
                - Moles, Abraham, O cartaz, Editora Perspectiva
                - Pedrosa, Israel, Da cor à cor inexistente, Leo Christiano Editorial
                - Rocha, Everardo P. Guimarães, Magia e capitalismo, Editora Brasiliense
                - Rubim C., Antônio, Mídia, eleições e democracia, Editora Página 
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