Projeto 
                Terças Poéticas abre temporada nacional 2006 com Ricardo Aleixo 
                e Sebastião Uchoa Leite
                (por José Aloise Bahia)
                
                

                O projeto de leitura, vivência e memória de poesia Terças Poéticas, 
                parceria do Suplemento Literário de Minas Gerais e Fundação Clóvis 
                Salgado, apoios culturais Rádio Inconfidência e Rede Minas de 
                Televisão, criação de Camila Diniz Ferreira e curadoria de Wilmar 
                Silva, abre a temporada nacional 2006 na próxima terça-feira, 
                dia sete de março, às 18h30, nos jardins internos do Palácio das 
                Artes, entrada franca, com o poeta, compositor, ensaísta e performer 
                Ricardo Aleixo - que fará leituras de poemas extraídos de vários 
                livros publicados, com ênfase para o mais recente "Máquina Zero". 
                O Terças Poéticas homenageia o pernambucano Sebastião Uchoa Leite. 
                "Vou apresentar os poemas dele mais irônicos, no limite com o 
                humor mais desabrido", diz Ricardo Aleixo, em entrevista para 
                Wilmar Silva.
                
                Ricardo Aleixo nasceu em Belo Horizonte, MG, em 14 de setembro 
                de 1960. Como performer e compositor integra o Combo de Artes 
                Afins Bananeira-ciência. Fez apresentações no Brasil, Argentina, 
                Alemanha, Portugal e França. É curador do Festival de Arte Negra/FAN. 
                Ministra cursos e oficinas na área das poéticas experimentais 
                da voz - à qual tem dedicado inúmeros ensaios e artigos. Publicou, 
                entre outros, os livros "Festim" (1992), "A Roda do Mundo" (1996), 
                "Trívio" (2001) e "Máquina Zero" (2004). Tem poemas, artigos e 
                ensaios publicados em jornais, revistas, internet, antologias 
                e coletâneas literárias no Brasil e exterior (EUA, França, Espanha, 
                Peru, Argentina e País de Gales). Participa da antologia "O Achamento 
                de Portugal" (anomelivros, Belo Horizonte, MG, 2005), que reuniu 
                40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos. 
                
                A homenagem ao pernambucano Sebastião Uchoa Leite, segundo Ricardo 
                Aleixo, é uma forma de ajudar a manter viva a memória de "um grande 
                amigo e incentivador", a quem inclui entre os nomes imprescindíveis 
                da poesia brasileira contemporânea. Para a apresentação, a escolha 
                recaiu sobre os poemas que melhor se prestam à oralização e exploração 
                da ironia, no limite com o humor. 
                
                Sebastião Uchoa Leite nasceu em Timbaúba, PE, em 1935. Cresceu 
                e formou-se no Recife, onde cursou direito e filosofia na UFPE 
                (Universidade Federal de Pernambuco). Mudou-se para o Rio de Janeiro 
                em 1965, e fez parte do grupo da revista "José". Trabalhou em 
                diversas editoras, na Enciclopédia Mirador Internacional (com 
                Antônio Houaiss e Otto Maria Carpeaux), Funarte e IPHAN. Traduziu 
                Lewis Carrol, Stendhal, Octavio Paz, Marjorie Perloff, François 
                Villon. Faleceu no Rio de Janeiro, em 27 de novembro de 2003, 
                e está enterrado no cemitério São João Batista. Publicou: Dez 
                Sonetos sem Matéria (1960), Antilogia (1979), Isso não é aquilo 
                (1982), Obra em Dobras (1988), A uma incógnita (1991), A espreita 
                (2000), etc. Com o livro A Regra Secreta (Landy, 2001), obteve 
                o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira. Recebeu ainda 
                dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro: pelo livro 
                de poemas Antilogia e pela tradução de Poesia, de François Villon. 
                Deixou uma obra admirável por muitos. Nos dizeres de Haroldo de 
                Campos: "Um poeta de leitura indispensável, como o são na minha 
                geração, o paulista Décio Pignatari, o mineiro Affonso Ávila, 
                e o piauiense Mário Faustino, o nosso Elpenor 'aeromorto'; como 
                também é, na geração posterior à minha (a dele, Sebastião) o fileleno 
                samurai zen-curitibano Paulo Leminski, inesquecível."
              TEMPORADA 2005
              Com 21 edições realizadas 
                entre cinco de julho e 13 de dezembro de 2005, público de quatro 
                mil pessoas aproximadamente, o projeto Terças Poéticas alcançou 
                índices admiráveis, apresentando e homenageando os mais diferentes 
                poetas, a exemplos de Milton César Pontes e Altino Caixeta de 
                Castro, na estréia; Adriana Versiani, Prisca Agustoni, Ana Elisa 
                Ribeiro, Mário Alex Rosa, Sérgio Fantini, Jovino Machado, Ronaldo 
                Werneck, etc. Homenagens a Cacaso, Emílio Moura, Ascânio Lopes, 
                Dantas Mota, Bueno de Rivera, Alphonsus de Guimaraens, Rainer 
                Maria Rilke, etc. Samplers de leituras, músicas e performances, 
                as mais inusitadas; participações de Reynaldo Bessa, Leonel Ferreira, 
                Ana Gusmão, Helena Soares, Lorelai Schneider, Thaís Inácio, etc. 
                
              TERÇAS POÉTICAS 
                TERÁ CONVIDADOS NACIONAIS
              O Suplemento Literário 
                de Minas Gerais e a Fundação Clóvis Salgado desejam ampliar ainda 
                mais a origem natural do projeto Terças Poéticas. Algumas presenças 
                em 2005 revelam o que realmente vai se tornar uma condição para 
                2006: a participação de poetas do interior de Minas Gerais e outros 
                de vários Estados do Brasil. Como se trata de um projeto de fôlego 
                semanal, mês a mês, será convidado um poeta reconhecido nacionalmente 
                para se apresentar. Alguns nomes como Fabrício Carpinejar, Carlito 
                Azevedo, Fábio Weintraub, Cláudio Daniel, Arnaldo Antunes, serão 
                possíveis convidados ainda no primeiro semestre de 2006.
              PROGRAMAÇÃO MARÇO 
                2006
              Para o dia 14 de março 
                o projeto Terças Poéticas recebe As Declamadoras de Salinas; dia 
                21 - Maria Esther Maciel e homenagem a Orides Fontela; e dia 28 
                - Cia Poética Estação Platina (France Gripp, Lívia Tucci, Simone 
                Neves, Tânia Diniz e Tânia Pagano) e homenagem a Henriqueta Lisboa. 
                
                
                Labirinto
                Ricardo Aleixo
                
                Conheço a cidade 
                como a sola do meu pé.
                
                Espírito e corpo prontos 
                para evitar
                
                outros humanos polícias
                carros ônibus buracos
                
                e dejetos na calçada
                incorporo hoje o Sombra amanhã
                
                o Homem In
                visível sexta à noite
                
                o perigoso Ninguém
                e sigo.
                
                Como os cegos
                conheço o labirinto
                
                por pisá-lo
                por tê-lo
                
                de cor na ponta dos pés
                à maneira também do que
                
                fazem uns poucos
                com a bola
                
                num futebol descalço
                qualquer. Conheço a 
                
                cidade toda (a
                mínima dobra retas cada borda
                
                curvas) e nela - à
                custa de me
                
                perder - me 
                reconheço.
                
                (Máquina Zero, Scriptum Livros, BH, MG, 2003)
                
                Um outro
                Sebastião Uchoa Leite 
                
                (quando acordo no entressono vejo-me
                como se estivesse fora de mim mesmo
                é uma espécie de susto:
                ali estou eu
                parado como se fosse um outro
                contratado para cometer um crime
                quero voltar para dentro do sono
                dentro do subsolo da mente
                onde me jogo
                e me dissolvo
                e me abandono)
                
                (A espreita, Editora Perspectiva, SP, 2000) 
                
                
                José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista 
                e escritor. Autor de Pavios Curtos (anomelivros, 2004) e Em Linha 
                Direta (no prelo). josealoise@terra.com.br
                
                
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