Eu 
                voto SIM para a vida 
                (por José Aloise Bahia)
                
              
              
                Marcelo 
                AB, Brasil, 2003, "Homem" da Série Fósseis, Acrílica S/Madeira 
                Reciclada 
              Recentemente, escrevi 
                um artigo sobre a importância da consulta popular. Apresentei 
                duas argumentações distintas e importantes. Uma delas, a partir 
                de uma revista semanal de grande circulação. A outra, foi apresentada 
                por um jurista e professor universitário. Dois lados da mesma 
                moeda: favorável e contrária ao comércio de armas e munição no 
                país. Isenção, imparcialidade, objetividade e qualidade de informação 
                para instigar um maior debate e participação da sociedade civil 
                e opinião pública, no referendo do dia 23 de outubro, foram os 
                objetivos do artigo.
                
                Agora, como cidadão, confesso que esta semana foi de muita reflexão. 
                Leituras de jornais, revistas especializadas; assistir às propagandas 
                gratuitas na TV e rádio, e o programa "Roda Viva" da Rede Cultura 
                de Televisão, ajudaram muito. Mas, eis que surgem informações 
                mais transparentes e de credibilidade, repassadas por uma amiga 
                vereadora em Belo Horizonte. O que era uma tendência do pensamento, 
                transforma-se em realidade. E, não tenho dúvidas: eu voto SIM 
                para a vida.
                
                Esta é a primeira vez que o mundo assiste a uma consulta popular 
                sobre o comércio de armas de fogo e munição. Pioneiro da iniciativa, 
                o Brasil também possui uma lei específica sobre o assunto. Está 
                em vigor desde de dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento, 
                aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente 
                da República.
                
                O Estatuto do Desarmamento trouxe benefícios. Tornou mais difícil 
                a compra de armas, o porte ilegal crime inafiançável. Aumentou 
                a pena para crimes de tráfico de armas. Determinou a integração 
                das bases de dados relativos a armas no país. Eis o começo das 
                razões para votar SIM.
                
                Como defensor de uma cultura de cidadania, direitos, deveres e 
                paz, acredito que quanto mais armas, mais crimes. Como também 
                acredito nas 10 razões a seguir para votar SIM (opção 
                número 2 da urna eletrônica), no referendo do dia 23 de outubro, 
                a pergunta: O Comércio de armas de fogo e munição deve ser 
                proibido no Brasil?. A primeira delas é um princípio geral: 
                "Num Estado democrático, o direito de um termina quando começa 
                o direito do outro". O papel de polícia cabe ao Estado, e 
                devemos cobrar do Estado brasileiro uma política mais eficaz e 
                planejada em relação à segurança pública.
                
                Estudos da UNESCO mostra que Austrália, Inglaterra e Japão, onde 
                as armas são proibidas, estão entre os países com menores índices 
                de morte por arma de fogo. Ao contrário, os Estados Unidos, de 
                atitude liberal com as armas - variável de Estado para Estado, 
                pois lá existem Estados que proíbem o comércio de armas-, aparecem 
                como o oitavo país mais violento do mundo. "O Controle de armas 
                ajuda a salvar vidas e diminui os riscos para todos".
                
                Bandidos não compram armas em lojas, mas armas compradas em lojas 
                vão parar nas suas mãos através de roubo, perda ou revenda. "A 
                proibição do comércio de armas vai diminuir o abastecimento do 
                mercado ilegal pelo legal". Desavenças no trânsito, nos bares, 
                com vizinhos ou dentro de casa são transformadas em tragédias 
                irreversíveis quando existe uma arma por perto. "Armas de fogo 
                disponíveis geram os crimes de ocasião".
                
                Dados oficiais comprovam: no Brasil, armas de fogo matam mais 
                que acidentes de trânsito e são a maior causa de morte entre os 
                jovens. No mundo, o Brasil é o país que tem o maior número de 
                pessoas mortas com armas de fogo. De acordo com o Datasus (Departamento 
                de Informática do SUS), em 2003, foram 108 mortes por dia, quase 
                40 mil por ano. "O Brasil é recordista em crimes com arma de 
                fogo".
                
                A posse de uma arma não deixa as pessoas mais protegidas. Na maioria 
                dos assaltos, mesmo pessoas treinadas não têm tempo de reagir 
                e, quando reagem, correm mais risco de se ferirem ou serem mortas. 
                "Possuir uma arma não protege ninguém". As armas em casa 
                se voltam contra a própria família. Segundo o Datasus, em 2002, 
                no Brasil, duas crianças (entre zero e 14 anos) são feridas por 
                tiros acidentais todos os dias. "Ter armas em casa aumenta 
                o risco, não a proteção". 
                
                Os dados do Datasenado (Pesquisa de Opinião Pública do Senado 
                Federal) observam que, neste ano, nas capitais brasileiras, 44% 
                dos homicídios de mulheres são cometidos com arma de fogo; dois 
                terços dos casos de violência contra a mulher têm como autor o 
                próprio marido ou companheiro. De acordo com dados do FBI, relativos 
                a 1998, para cada vez que uma mulher usou uma arma em legítima 
                defesa, 101 vezes esta arma foi usada contra ela. "A mulher 
                corre mais risco de levar um tiro do que o ladrão". 
                
                "A proibição não vai aumentar o comércio legal". Algumas 
                pessoas manifestam-se contrárias a essa medida por temerem que 
                o controle possa aumentar a venda clandestina de armas. Ao contrário, 
                nos lugares onde essa medida foi adotada, detectou-se uma redução 
                no número de armas no mercado ilegal devido ao aumento de prelo 
                dificultar a aquisição.
                
                "A maioria das entidades religiosas e sociais apóiam, o SIM". 
                A maioria esmagadora das entidades organizadas da sociedade, entidades 
                religiosas, estudantis e movimentos como o das famílias vítimas 
                de violência, movimento Viva Rio e personalidades do mundo artístico 
                e literário apóiam o SIM. Uma corrente que está sintonizada com 
                movimentos pela paz no mundo inteiro. 
                
                
                José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista e 
                escritor.
                Autor de Pavios Curtos (anomelivros, 2004) e Em Linha Direta (no 
                prelo). josealoise@aol.com
                
                
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